Drift entrevista Damien Houques

Entrevista com Damien Houques, 37 anos. Empreendedor, fundador, CEO e pau para toda a obra na Greenfix, vencedora do "Eurosima’s Technological Innovation" award em 2009.

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Comecei a surfar quando era adolescente mas parei pouco depois por não gostar da intolerancia das pessoas com quem surfava e isso como que me pôs de fora. Com 25 anos voltei a surfar e apercebi-me o quanto havia perdido. Desde então desenvolvi um gosto por surfar diferentes pranchas e ondas, e experimentar o deslizar sobre a água nas mais variadas formas, das shortboards aos longboards ou guns. Mais tarde, em 2004, mudei-me para o País Basco e depois de desistir do meu trabalho, fiz uma pausa durante a qual construi a minha a casa e pensei sobre o meu futuro. Planeei começar a minha própria empresa e uma vez que o surf era a minha paixão, porque não na industria do surf?


Damien testing his wax at Parlamentia (Guéthary)

Foi aí que surgiu a Greenfix?

Sim, eu queria desenvolver um produto que não estivesse muito concorrido (ao contrário do surfwear) e estava sempre a voltar ao wax. É algo que todo o surfista necessita e não está muito concorrido. Eu fiz um inquérito junto de 250 surfistas locais para ver qual era a sua opinião e depois de ver os resultados ingressei na ESTIA. A ESTIA é uma Universidade Politécnica local, mas também uma incubadora the ideias e um conjunto de empresas tecnológicas que partilham o seu conhecimento tecnológico e instalações. Com a sua ajuda comecei a pesquisar diferentes composições de wax e conseguimos descobrir uma formula que resiste a temperaturas muito altas (60ºC na formula Cool/Warm e até 70º na formula Tropical)

Mas não apenas um surf wax qualquer?

Certo, o objectivo foi desenvolver um surf wax de excepção em termos de performance, nas que fosse igualmente amigo do ambiente... e feito localmente. Não quero que o consumidor faça a mais pequena concessão: Sempre vi o nosso dever como empresa de desenvolver um bom produto, amigo do ambiente e que não custe mais ao cliente que um wax menos ecológico. É a unica forma dos clientes mudarem para produtos mais ecológicos. Finalmente este Verão passado lançamos a marca.

Como foi recebida?

Fizemos um teste de mercado no inicio de Agosto em França e fomos muito bem recebidos. Tanto que quase não conseguimos acompanhar as encomendas. No inicio estavamos a entregar a nossa produção a uma empresa que produz velas e outros artigos de cera mas depois de uma série de contra-tempos, este Outono, decidimos fazer wax nós mesmos em Bidart. Hoje nós derramamos o wax liquido nos moldes à mão, desenformamos à mão, etc... necessitariamos de um volume de produção mais elevado para passarmos para um metodo mais automatizado. Por isso por agora iremos manter-la desta forma, apesar de estarmos sempre a tentar desenvolver o processo. Por outro lado ao fazer tudo à mão dá-nos a oportunidade the constantemente controlar a qualidade do wax.

Há uma moda de outras marcas de wax lançarem waxes amigos do ambiente. Como isso te afecta?

Antes de lançarmos o Greenfix já havia uma marca especifica de wax natural. E algums marcas já existentes tinham lançado eco-waxes também. Por isso não somos os únicos e gostamos disso, pois é tudo um passo na direcção certa. Mas no que nos diz respeito há defenitivamente várias diferenças entre nós e eles: (1) não produzimos na China mas sim localmente; (2) o nosso wax é altamente resistente ao calor, o que vem a calhar quando deixamos a prancha ao sol (ou dentro do carro) no Verão; e (3) o formato da barra de wax, que foi desenhada especificamente para um uso fácil e de grande performance. Por outro lado nós acreditamos que certos waxes naturais podem não ser tão amigos do ambiente quanto proclamam. Quando andava a pesquisar vários fornecedores chineses ofereceram-me cera de abelha (um ingrediente chave), que depois de uma pesquisa aprofundada descobrimos que não eram de todo de abelha, mas sim um produto com base em oleo modificado para imitar verdadeira cera de abelha. Este é só um exemplo do que pode acontecer quando não vemos perto o suficiente.

Daí a tua decisão de não produzir em massa na China?

Correcto. Hoje a maioria dos artigos relacionados com o surf são feitos na china. Varias empresas grandes lançaram produtos etiquetados de amigos do ambiente para aumentar o seu mercado, e não para dar um passo honesto para uma produção mais ecológica. Nós sabemos que ao produzirmos localmente os nosso custos são mais altos, mas uma escolha nossa. É por isso que estamos a planear um test laboratorial, a cargo de um laboratório independente, para analisar grande parte dos intitulados waxes naturais existentes no mercado e aí descobrir quais são realmente 100% livres de oleo e os que não são. Queremos fazer este apontamento correctamente para bem de todos os consumidores.

É isso apenas marketing ou parte da ética da Greenfix?

Desde do primeiro momento tivemos três pilares em mente à volta dos quais construimos a filosofia da Greenfix: (1) produzir produtos amigos do ambiente; (2) produzir localmente por forma a criar ou mater postos de trabalho, quer directa ou indirectamente ao usar fornecedores locais e (3) que os nosso trabalhadores se tornei sócios da empresa num conceito similar ao de uma cooperativa, com grande enfase na responsabilidade social. Produzir na China daria-nos mais tempo para as vendas e um preço de custo mais baixo mas não assim que o queremos. Algumas pessoas dizem que sou um utópico mas eu gosto de fazer coisas. Talvez no fim deste ano seja provado que estou errado mas até agora é assim que temos nos movido. Igualmente trabalhamos com a C.A.T. (centro que emprega pessoas com deficiencias fisicas) para o nosso packaging e logistica, algo em que temos muito orgulho e que não poderiamos fazer se estivessemos a produzir na China. Com outros produtos que estamos a desenvolver para breve espero seguir o mesmo caminho. Na realidade esses novos productos serão fortemente focados nas suas capacidades de reciclagem.

Certo, o que vem a seguir?

Comercialmente já estamos em França, brevemente em Espanha e Portugal e estamos activamente à procura de distribuidores para o resto da Europa (UK, Italia, etc...). Contactem-nos através do nosso website se souberem de alguém interessado. Sabemos que ao produzir em França estaremos sempre a ser mais amigos do ambiente que outras marcas feitas na China ou na Califórnia, nem que seja só pelo custo ambiental do transporte. Se alguma vez decidirmos expandir para mercados fora da Europa só o faremos produzindo localmente; não apenas por razões ambientais mas também para dar algo de volta às comunidades onde vendemos. Mas este ainda é um caminho muito longo.